Ocupação
Ela tremia, enquanto lá fora soavam as
buzinas. As horas de vigília faziam uma exaustão que não deixava relaxar.
Pensava na mãe. Como era mesmo aquela reza do anjinho da guarda? Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador...
Queria fazer xixi. Então sentiu que ia
chorar, mas o choro era como o sono: precisava de paz pra acontecer. Deitada no
chão, encolhida, ela olhava o infinito depois da parede. Quis chupar o dedo,
mas já não sabia como. Então se pôs a roer as unhas, e uma lágrima desceu; mas
os olhos não piscavam.
Sentiu uma mão que lhe afagava os cabelos. As
pálpebras cederam, e ela não sabe se dormiu, porque havia luzes e buzinas.
E, no entanto, nada disso era ainda
o inferno. Pois quando tudo acabou, ela não tinha mais nada, e aqueles homens
bestificados pela impiedade tinham na cara o deboche.
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